A Paris Roubaix Challenge é um evento de ciclismo amador criado em 2011, com o intuito de proporcionar aos atletas uma experiência única que é percorrer a rota quase que por completa da prova clássica mais tradicional do Ciclismo Profissional, a Parix Roubaix.
Ela geralmente acontece no dia anterior à Paris Roubaix, e tem como objetivo a interação dos ciclistas amadores e amantes do ciclismo, desafiando os trechos mais temidos em pavés da região norte da França.
A Parix Roubaix Challenge em si não é uma corrida, é um desafio, não existe um campeão no Challenge, todos somos campeões pelo simples fato de completarmos qualquer uma das três rotas.

Quando digo 3 rotas, é que a organização dividiu em 3 diferentes rotas para que cada atleta amador possa escolher a que mais condiz com o seu condicionamento físico, técnico e mental.
1 – Percurso de 70km (menor) – É a rota mais curta do desafio, com largada do Velódromo Antigo de Roubaix, e chegada no mesmo. Essa rota passa por 8 setores de pavés, incluindo os setores finais e decisivos como Champhin en Pavéle, Carrefour D’Labre e etc.
2 – Percurso de 145km (intermediário) – É a rota intermediária do desafio, com largada também no Velódromo Antigo de Roubaix, e chegada no mesmo. É a rota mais escolhida por todos, uma vez que a largada e chegada é no mesmo lugar, e a mesma passa pelos setores de pavés mais famosos da Roubaix. Ao todo são 19 setores de pavés, passando pela lendária Floresta de Arenberg e também por todos os setores finais que a rota menor passa.
3 – Percurso de 175km – (maior) – É a rota maior do desafio, e a que mais se assemelha em distância e trajeto da Paris Roubaix. Porém é a menos escolhida devido a logística da largada e chegada, que é diferente das demais rotas, uma vez que ela larga de um local diferente. A largada é feita da Cidade de Busigny com chegada no velódromo de Roubaix. A rota maior ao todo passa por 29 setores de pavés, incluindo todos os setores de maior e menor relevância que a Roubaix enfrenta.
Aqui você encontra de forma ilustrativa sobre as 3 diferentes percursos, está em inglês mas é bem simples de entender: http://www.parisroubaixchallenge.com/en/the-race/Route
No meu caso em específico, decidi fazer a rota menor de 70km, haja visto que eu nunca havia pedalado em pavés e meu condicionamento físico não estava dos melhores Também porque estava com um amigo que iria participar comigo que também não estava preparado para fazer a rota intermediária de 145km.

Pois bem, definido a rota com a qual iríamos participar do evento, fizemos a inscrição no site do Paris Roubaix Challenge, segue link: http://www.parisroubaixchallenge.com/en . A inscrição teve o custo de apenas 20 Euros, isso incluso toda a estrutura da prova, pontos de apoio, alguns brindes e etc. Para maiores informações basta acessar o site.
Sobre as bicicletas que usamos, decidimos dessa vez alugar as bicicletas, digo dessa vez pois já participei de um evento na França anteriormente com o qual eu levei minha bicicleta do Brasil, o L’Etap du Tour de 2014, segue o link também sobre o meu post desse evento – https://obicicleteiro.wordpress.com/2016/01/21/letape-du-tour-2014-pau-hautacam/ O fato de levar o equipamento próprio do Brasil é mais complexo, haja visto que existem taxas de companhias aéreas sobre “mala bike”, montagem e desmontagem da bicicleta e etc.
Após a decisão de alugar as Bikes, encontrei um site de uma empresa que faz esse serviço, na verdade posteriormente descobrimos que são 2 Holandeses, ao menos é o que achamos sobre a forma como eles se comunicavam, esses, tem uma grande van e várias bicicletas para alugar, eles fazem todos os eventos ali da região da França e das Clássicas Belgas. Segue o site com o qual alugamos as bikes: https://www.cycleclassictours.com/
O preço que pagamos foi de aproximadamente 165 Euros (cada bike), para 2 dias, ou seja o evento seria no sábado dia 7 de Abril, nós pegamos as bikes na manhã de sexta dia 6 de Abril. Basta entrar no site, escolher a bike que mais condiz com seu tamanho e gosto. Eu escolhei uma Trek Domane com quadro de Carbono montada em Ultegra, uma bela bicicleta. A bike vem equipada com os “porta caramanholas” e uma bolsa de selim que contém 2 espátulas para troca de pneu, 1 câmara de ar nova e 1 bomba de ar de mão. É importante lembrar que capacetes, luvas, pedais e etc é de responsabilidade de cada ciclista, essa empresa até tem o serviço de aluguel dessas peças, mas eu resolvi levar os meus próprios equipamentos.
O local onde pegamos as bicicletas foi no estacionamento de um Hotel em Lille, cidade próxima a Roubaix onde também escolhemos ficar hospedados. Existe outra observação a se fazer quando se faz a retirada das bike, eles pedem 500 Euros em dinheiro como caução, prontamente nos demos o dinheiro para cada bike e eles colocaram em um envelope cada qual com nossos respectivos nomes. A devolução da bike é feita no local da prova, assim que terminamos basta só procurar a van deles, e fazer a devolução. No ato eles já devolvem o envelope em seu nome com os 500 Euros. É bem simples e prático. Achei muito mais fácil alugar a bicicleta, não tive preocupação com limpeza, desgaste de material, muito menos desmontagem. Recomendo!

Após retirar as bikes com a empresa que alugamos, isso no dia 6 de Abril, um dia antes do evento, fomos fazer o reconhecimento dos pavés, haja visto que nunca havia andando em um piso assim, fomos até o trecho da Floresta de Arenberg, nosso percurso não passaria por lá, apenas o de 145km e de 175km, mas é o trecho mais famoso e mais temido de toda a Roubaix, não poderíamos perder a oportunidade de conhecer. Segue o link do post sobre o reconhecimento dos pavés da Floresta Arenberg:
Após o reconhecimento dos pavés na parte da manhã, fomos na parte da tarde até Roubaix, no velódromo fazer a retirada do kit da prova. Esse kit contém o numero de identificação com chip, numero de dorso, algumas informações sobre a rota e etc. Lá existe uma vila com tendas vendendo roupas e peças de ciclismo, assim como alguns stands de divulgação de várias marcas.

Falando mais um pouco sobre o Velódromo de Roubaix, a retirada dos kits ocorreu dentro do velódromo “Novo” de Roubaix, um velódromo moderno e coberto, nos padrões atuais da UCI. O Velódromo antigo, fica ao lado de fora, ele tem medidas em padrões diferentes e não existe cobertura. O piso também é em concreto, totalmente diferente dos velódromos atuais. Isso torna as coisas ainda mais interessantes, pois é no Velódromo antigo onde acontece a chegada tanto do Challenge quanto da Paris Roubaix.
O Velódromo estava em fase final de pintura, todo essa estrutura montada para receber a Paris Roubaix no domingo. A montagem do pódio também estava pronta.

Vale fazer uma observação sobre o evento, apesar de não ser uma corrida e sim um desafio amador, é impressionante a quantidade de pessoas que participaram, esse ano de 2018 foram mais de 6 mil participantes.
Enfim, após a retirada dos kits, e uma pequena volta pela vila e os 2 velódromos, era hora de jantar e descansar, pois no outro dia era o dia do evento.
Dia do Evento – Paris Roubaix Challenge
A largada estava marcada para as 7 horas da manhã, então claro, nos preparamos para chegar ao local com bastante antecedência. O fato é, não existe uma largada “em massa” como qualquer corrida amadora, e isso nós não sabíamos. A largada funciona da seguinte forma; Os participantes tem das 7 horas até as 11 horas da manhã para iniciar o desafio, e posteriormente até as 17 horas para concluir. Ou seja, você pode largar a hora que bem entender dentre o horário proposto.
Nós por desconhecer sobre isso, acabamos chegando ao local da largada as 6 horas da manhã, e não havia ninguém. Ainda estava escuro e não vimos quase nenhuma movimentação. Ficamos a ficar um pouco assustados, mas aos poucos foram aparecendo algumas pessoas. Estava muito frio, muito frio mesmo, a temperatura estava em 7 graus, realmente congelante.
Esperamos no carro estacionado próximo ao velódromo até as 6.30hrs, e fomos para o local da largada. Ainda estava fechado, mas logo conseguimos adentrar ao velódromo onde o pessoal começou a chegar.
Ali devido ao frio, fomos para a parte interna tentar nos aquecer, e ainda conseguimos pegar um café bem quente que um carro da equipe profissional Katusha estava servindo aos participantes.
Enfim quase 7 horas da manhã, perfilados para a largada, havia entre 200 e 300 ciclistas apenas, a maioria pensou melhor e resolver largar mais tarde, com uma temperatura um pouco mais elevada devido a presença do Sol, mas como já estávamos lá, largamos as 7 mesmo e o aquecimento viria com o nosso esforço físico!

Largada feita, o combinado era colocar um ritmo não muito forte porém constante, e tentar sempre pegar a roda “vácuo” de alguém para ajudar a fazer menos esforço. Nem sempre acontece como planejado, pois com a adrenalina logo da largada a tendência sempre é se fazer mais força que o necessário.
É importante lembrar que todo o percurso é sinalizado, e MUITO bem sinalizado, não tem como se perder. O trânsito não é 100% fechado para o desafio, até porque seria impossível interditar cidades e vilas inteiras por causa do evento. Foi notório que a cada esquina havia uma placa de sinalização e um staff ou agente de trânsito parando os carros para os ciclistas passarem. Os franceses nesse ponto de educação com ciclistas são exemplares.
Em minha linha de raciocínio a prova é dividida em 2 etapas, no total dos 70km de percurso, os primeiros 38km não havia nenhum pavés, passaríamos por cidades e vilas vizinhas a Roubaix. Essa seria a parte 1.
Logo com 13km percorridos passamos pela cidade de La Brouette, com 15km estávamos em Wannehaim, até que com 22km chegamos a Bergu. Nesse ponto se separam o pessoal que faria o percurso de 70km que vira a direita, e os que fariam o percurso de 145km seguiram em frente. Após essa separação fomos até o km 38 onde chegamos ao ponto de hidratação e alimentação. Para os que estavam fazendo a rota menor, era o único ponto de assistência de toda o percurso.
Até esse momento, vários outros ciclistas haviam largado, muitos nos ultrapassaram, outros fomos ultrapassando, mas cada um sempre no seu ritmo. Haviam famílias reunidas pedalando, idosos, crianças, mountain Bikers e etc. Foi aí que chegamos ao final da “parte 1” do percurso, dali em diante, começariam os setores de pavés. Hora de se hidratar, alimentar e seguir em frente.

Com uma breve parada de no máximo 15 minutos, continuamos o trajeto, já entrando no primeiro setor de pavés que enfrentaríamos. Esse com nome de TEMPLEUVE MOULIN DE VERTAIN tem apenas 500m e recebe a certificação de dificuldade de 2 estrelas. Esse nível de dificuldade é medido da seguinte forma, uma escala de 1 a 5 de forma crescente quanto a dificuldade.
Passamos por ele até com bastante facilidade, não é tão longo, e os pavés estão bem nivelados. Foi bom para já ir se acostumando com os outros setores subsequentes.

Após sair do TEMPLEUVE MOULIN DE VERTAIN, pegamos novamente estradas asfaltadas e fomos até ao km 44, na cidade de Cysping.
A partir dali entraríamos no segundo setor do dia de pavés o CYSOING A BOURGHELLES, que tem 1,3km de comprimento certificado em 3 estrelas de dificuldade. Nesse já pude notar o quanto é mais fácil andar nas laterais da estrada, a parte onde tem terra se sente muito menos a trepidação dos pavés.

O terceiro setor que iríamos enfrentar no dia, vem logo em seguida do CYSOING A BOURGHELLES, eles são quase juntos.
Denominado de BOURGHELLES A WANNEHAIN, ele tem 1,1km de extensão com 3 estrelas de dificuldade. É muito parecido com o setor anterior.
Após a conclusão do BOURGHELLES A WANNEHAIN, chegamos novamente a cidade de Wannehain com um total de 48km percorridos.

A partir daí com os 48km percorridos, entramos na parte de maior dificuldade de todo o desafio, que são 3 setores praticamente ligados um ao outro.
Chegamos ao setor de numero 5, o CAMPHIN EN PEVELE, que tem 1,8km com 4 estrelas de dificuldade.
Foi nesse setor que acabei assistindo “in loco” a Parix Roubaix dos profissionais, que ocorreu no outro dia.
Segue o link do post sobre: https://obicicleteiro.wordpress.com/2018/05/20/paris-roubaix-2018/

O CAMPHIN EN PEVELE é bastante extenso, e como no setor anterior, o ideal é sempre ir andando nas laterais da estrada. Esse setor é mais complicado pois existem ondulações durante toda a estrada.
Logo que em seguida, após terminar o CAMPHIN EN PEVELE chegamos ao sexto setor do dia, o Setor 4 denominado de CARREFOUR DE L’ARBRE esse tem 2,1km de extensão com dificuldade 5 estrelas. É o setor com maior dificuldade de toda a Parix Roubaix, assim como a Floresta de Arenberg.

No caso da Parix Roubaix Challenge, havia algo específico, no CARREFOUR DE L’ARBRE estava sendo cronometrado o tempo que cada participante demorava para concluir o setor. Não existia premiação muito menos bonificação, apenas um incentivo para cada um saber quanto tempo demorou para passar por um dos setores de pavés mais temidos das Paris Roubaix e geralmente onde é decidida a prova.
Após o término do CARREFOUR DE L’ARBRE, novamente quase que em seguida já entramos no penúltimo setor do dia, o setor 3 denominado de GRUSON, esse tem 1,1km de extensão com 2 estrelas de dificuldade.
Nesse momento devido aos 3 setores estarem praticamente juntos, começamos a sentir o cansaço físico, não só pelos 55km percorridos desde a largada, mas também o cansaço mental de passar pelos setores de pavés acumulados.

Saindo do GRUSON, tivemos algum tempo com estradas totalmente asfaltadas. Fomos do km 50 até o 62, onde chegamos no último setor do dia, o denominado WILLEMS A HEM, que tem 1,4km de extensão com 3 estrelas de dificuldade.
Esse setor em si, eu senti que é o mais prejudicado de se andar nas laterais, estava com vários buracos, e os pavés estavam muito irregulares. Paciência e destreza fizeram com que passássemos sem problemas mecânicos. Digo isso pois houve uma pessoa que estava passando por ali ao meu lado, que quebrou uma gancheira devido a uma pancada da estrada.

Saindo do WILLEMS A HEM e último setor, faltavam apenas 7 km para concluirmos a prova. Estávamos já cansados, mas sabíamos que havíamos passado pelas maiores dificuldades do desafio.
Chegando ao velódromo, foi o único lugar que tivemos um pequeno problema, o staff da organização que estava ali direcionando os ciclistas a entrar, saiu do lugar e acabamos errando a entrada. Mas logo descobrimos que havíamos errado, e voltamos para entrar pelo lugar certo.
Assim que se entra no complexo do velódromo, fomos direcionados ao velódromo antigo, onde nele damos uma volta completa até a linha de chegada. É surreal a sensação de pedalar ali, onde tanta história já foi construída.
Enfim havíamos concluído o desafio, era hora de receber as medalhas de participação devolver as bikes, e finalizar mais essa aventura.
Foi uma experiência única, recomendo a qualquer ciclista que se tiver a oportunidade vá passear pelo norte da França, quem sabe pedalar pelos pavés e ainda mais assistir a Parix Roubaix.

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